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Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.
Colunista do UOL
11/11/2022 04h00
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva irá reabrir as representações diplomáticas do Brasil em Caracas e no restante da Venezuela, fechadas pelo ex-chanceler Ernesto Araújo. A medida faz parte de uma retomada de um diálogo direto com o governo de Nicolás Maduro e a revisão do reconhecimento de Juan Guaidó como autoproclamado presidente da Venezuela.
Não se trata, segundo membros da equipe de Lula, de ignorar os problemas do governo bolivariano e nem de dar apoio irrestrito. A decisão será tomada com base no pragmatismo, na tradição da diplomacia brasileira de manter canais abertos de diálogo e para garantir a assistência aos brasileiros e aos interesses do país na região.
A reabertura ainda acontece num momento em que a Venezuela tenta sair de um isolamento internacional, retomando o diálogo com a oposição. Um encontro em Paris tentará reabrir a negociação entre Maduro e líderes da oposição, num esforço que está sendo apoiado pela equipe de Lula, do governo colombiano de Gustavo Petro e por Emmanuel Macron, presidente da França.
O presidente Jair Bolsonaro colocou Maduro como seu antagonista, em parte atendendo a uma pressão por de Donald Trump, ex-presidente dos EUA. Antes mesmo da posse do presidente brasileiro, em 1º de janeiro de 2019, Araújo ordenou que os representantes de Caracas não fossem convidados para a solenidade em Brasília, algo inédito na democracia brasileira.
Três semanas depois, Bolsonaro foi um dos primeiros governantes a reconhecer Juan Guaidó, líder da oposição, como presidente, ato que foi acompanhado por Trump e outros países da região.
Na ONU, o governo brasileiro liderou propostas de resoluções contra Maduro e chegou a abandonar a sala sempre que um ministro venezuelano tomava a palavra.
Com a tensão entre os dois países ganhando força, o momento de ruptura ocorreu entre março e abril de 2020, quando o governo brasileiro decidiu fechar sua embaixada em Caracas, um consulado-geral na capital e três vice-consulados espalhados pelo país. Num deles, os móveis chegaram a ser doados para uma igreja evangélica da região.
Mas a avaliação de pessoas que começam a conduzir a nova política externa brasileira é de que não faz sentido fechar as representações políticas e consulares num país vizinho e onde 10 mil brasileiros estão presentes. Para votar na eleição em outubro, por exemplo, esses brasileiros tiveram de viajar até a Colômbia, algo impraticável para muitos.
O movimento, segundo diplomatas, também tem o apoio de estados como os de Roraima e Amazonas, que precisam de uma comunicação estável com o vizinho venezuelano. O fechamento da embaixada e consulado acabou dificultando essa ligação, mesmo para estados com maioria de aliados de Bolsonaro.
Uma vez reabertos os postos diplomáticos, o governo Lula manterá relações normais com o governo de Maduro e irá reavaliar qual nível de contato irá estabelecer com Guaidó.
Durante a campanha eleitoral, Lula chegou a defender a “alternância de poder” na Venezuela. Mas insistiu que uma ingerência externa não faz parte da estratégia nacional.
Dentro do Itamaraty, mesmo uma ala mais progressista dos diplomatas insiste que existe espaço para uma relação com Maduro, sem que isso signifique chancelar seus atos. Um exemplo usado com frequência é o do Chile, do progressista Gabriel Boric. Na ONU, Santiago tem adotado uma postura críticas às violações de direitos humanos na Venezuela e até mesmo patrocinando resoluções ao lado do Brasil de Bolsonaro.
De fato, investigações realizadas por relatores das Nações Unidas concluíram que crimes contra a humanidade foram cometidos pelo governo Maduro.
Segundo fontes dentro do Itamaraty, com a saída de Ernesto Araújo e a derrota de Donald Trump, houve uma tentativa de diálogo com a Venezuela. Mas o processo não caminhou. Hoje, porém, as condições internacionais mudaram. Guaidó deixou de ser tratado como presidente por parte da União Europeia, enquanto a guerra na Ucrânia e a necessidade de que americanos e europeus tenham acesso a novas fontes de petróleo reabriram os canais de comunicação com Maduro.
Nesta semana, viralizou um vídeo no qual o líder venezuelano conversa de forma amistosa com Emmanuel Macron, presidente da França, durante a Conferência do Clima da ONU, no Egito nesta semana.
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